Os primeiros encontros da Tribo Verde e Amarela foram uma grande festa! Canções populares, contos tradicionais e pão de queijo deram o sinal da amizade que vem pela frente e crescerá entre estes brasileirinhos!
Para iniciar as atividades, a arte-educadora Edinha Galvão se inspirou no texto «A Festa no Céu», uma fábula muito popular no Brasil e que figura nas pesquisas de Luis Câmara Cascudo. Entre sabiás, tucanos, araras e saracuras, as crianças entoaram canções como «Sabiá», uma das mais tradicionais e emblemáticas modas de viola brasileiras.
A ideia da educadora é que as reuniões sejam sempre lúdicas, de modo que as crianças aprendam brincando. «A cada encontro temos uma proposta em artes visuais. As crianças fazem arte e, depois, levam sua criação para casa, o que contribui para que cada um se aproprie desta memória», afirma.
Com recortes e colagem, nossos curumins deram vida a coloridos pássaros. Pintura e rasgando papéis, fizeram a Mata Atlântica com toda sua exuberência.
A seguir, fotos das crianças pintando o 7 e, mais baixo, o conto «A Festa no Céu», de Câmara Cascudo (em alguns lugares do Brasil, em vez de sapo, o protagonista da história é uma tartaruga ou um jabuti).
A Festa no Céu
(Conto tradicional do Brasil)
Luís Câmara Cascudo
Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no Céu. Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de voo.
Imaginem quem foi dizer que ia também à festa… O Sapo! Logo ele, pesadão e nem sabendo dar uma carreira, seria capaz de aparecer naquelas alturas. Pois o Sapo disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma. Os bichos só faltaram morrer de rir. Os pássaros, então, nem se fala!
O Sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o Urubu e deu uma prosa boa, divertindo muito o dono da casa. Depois disse:
– Bem, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido.
O Urubu respondeu:
– Você vai mesmo?
– Se vou? Até lá, sem falta!
Em vez de sair, o Sapo deu uma volta, entrou na camarinha do Urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro, encolhendo-se todo.
O Urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru…
Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola num canto e foi procurar as outras aves. O Sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua, todo satisfeito.
Nem queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o Sapo pulando no céu! Perguntaram, perguntaram, mas o Sapo só fazia conversa mole. A festa começou e o Sapo tomou parte de grande. Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, mestre Sapo foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu se havia hospedado. Procurou a viola e acomodou-se, como da outra feita.
O sol saindo, acabou-se a festa e os CONVIDADOS foram voando, cada um no seu destino. O Urubu agarrou a viola e tocou-se para a Terra, rru-rru-rru…
Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva, o Sapo mexeu-se e o Urubu, espiando para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.
– Ah! camarada Sapo! É assim que você vai à festa no Céu? Deixe de ser confiado…!
E, naquelas lonjuras, emborcou a viola. O Sapo despencou-se para baixo que vinha zunindo. E dizia, na queda:
– Béu-Béu!
Se desta eu escapar,
Nunca mais bodas no céu!…
E vendo as serras lá em baixo:
– Arreda pedra, se não eu te rebento!
Bateu em cima das pedras como um genipapo, espapaçando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena do Sapo, juntou todos os pedaços e o Sapo voltou à vida de novo.
Por isso o Sapo tem o couro todo cheio de remendos.
Antologia da literatura mundial
Lendas, fábulas e apólogos – vol IV
Seleção de Nádia Santos e Yolanda Lhullier Santos
Livraria e Editora Logos Ltda. São Paulo, 19–
Por Michelly Teixeira, mãe da Maia